Mapeamento da FGV Direito SP revela os impactos da tecnologia na profissão jurídica

31 de agosto de 2023

Equipe do CEPI traz os principais resultados após 18 meses de pesquisa

Alexandre Zavaglia (CEPI FGV Direito SP), Ana Paula Camelo (CEPI FGV Direito SP), Marina Feferbaum (CEPI FGV Direito SP) e Clemenencia Wolthers (CESA) (Imagem: Divulgação)

 

Na manhã desta quinta-feira, 21, o CEPI (Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação) da FGV Direito SP apresentou os resultados da pesquisa “Formando a advocacia do presente e do futuro: habilidades e perspectivas de atuação”. O objetivo do mapeamento foi identificar e debater as competências exigidas dos profissionais da advocacia, novas áreas e oportunidades, bem como o papel e os desafios da formação jurídica no contexto das mudanças tecnológicas.

A advogada e coordenadora do CEPI, Marina Feferbaum abriu a mesa, realizada em evento presencial, que analisou os dados da pesquisa sobre o mercado jurídico brasileiro. Segundo ela, “a perspectiva é que nos próximos cinco anos a tecnologia será um critério diferencial nos escritórios de advocacia, ela vai impactar e reinventar as atividades. Também vai impactar o profissional.”

 

“A perspectiva é que nos próximos cinco anos a tecnologia será um critério diferencial nos escritórios de advocacia, ela vai impactar e reinventar as atividades. Também vai impactar o profissional.”

 

A coordenadora também mencionou que o ponto de partida para o grupo de pesquisa foi a experiência prática das bancas com a tecnologia. Isso incluiu a compreensão de como as inovações, independentemente de sua complexidade, afetam o dia a dia do escritório.”As ferramentas de gestão, documentos, processos e pesquisa são, de certa forma, compartilhadas; escritórios de pequeno e grande porte têm usado essas ferramentas. Ferramentas mais complexas, como analíticas, de inteligência artificial ou resolução de conflitos, vemos que são limitadas a escritórios de maior porte”, afirmou Marina.

 

Marina ainda relacionou sua pesquisa com um levantamento da American Bar Association que mostra a passagem do modelo “Apiramidal” dos escritórios para o modelo de “Rocket” – foguete.

 

“O outro relatório da American Bar Association mostra que estamos passando do modelo piramidal do escritório, em que a base é de muitos advogados, para o modelo em que isso diminui para rocket – foguete – que tem menos advogados presentes, mas aumentam parceiros”, explicou Marina.

 

A líder de projetos do CEPI e professora da Sociedade Brasileira de Direito Público, Clio Nudel Radomysler, comentou sobre sua contribuição para o projeto. Com um foco maior no profissional da advocacia, ela mapeou as habilidades que os advogados precisam desenvolver diante das mudanças no contexto atual.

 

“As chamadas soft e hard skills são muito importantes para o advogado ser contratado, mas para que ele siga subindo posições é muito importante as competências socioemocionais”, analisou Clio. “Para nossa surpresa, em segundo vêm as competências de gestão, entender o cliente”, completou.

 

Além de Marina Feferbaum e Clio Nudel, estavam presentes no primeiro painel as também integrantes da CEPI FGV Direito SP: Ana Paula Camelo, Olívia Pasqualeto e Ana Carolina Rodrigues Dias Silveira. Emerson Fabiani, da FGV Law, também compunha a mesa.

 

Sobre a pesquisa

Foram realizadas 400 entrevistas individuais e anônimas por telefone com representantes de escritórios de advocacia de diferentes tamanhos e regiões do Brasil entre setembro e novembro de 2022.O questionário utilizado foi elaborado pelas pesquisadoras e aplicado por uma empresa contratada, contendo questões fechadas e abertas.A amostra da pesquisa foi selecionada com base em percentuais estatísticos, considerando o número de inscritos na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) por região em agosto de 2022. Foram entrevistados profissionais de escritórios com pelo menos três sócios, excluindo sociedades individuais de advogados.

A margem de erro da amostra total é de 5%, com um intervalo de confiança de 95,4%.

 

Principais Destaques

Os resultados do mapeamento indicaram que:

  • 85% dos escritórios identificaram a modernização das atividades como a principal razão para adotar tecnologia, com 100% dos escritórios de grande porte seguindo essa tendência.
  • 68% mencionaram o aperfeiçoamento de serviços e a necessidade de lidar com processos eletrônicos como motivos para adotar tecnologia.
  • A pandemia foi considerada um fator relevante para 48% dos entrevistados, enquanto 28% destacaram o custo mais baixo das ferramentas como motivador.
  • Medidas estimuladas pela pandemia incluíram a ampliação do trabalho remoto (92%), o uso de ferramentas para comunicação e organização interna (83%), e a implementação de ferramentas para melhorar a experiência do cliente (61%).
  • Escritórios de grande porte lideraram a adoção de tecnologia e experimentaram um aumento no número de clientes durante a pandemia, enquanto escritórios menores contrataram menos e criaram menos setores.
  • Em relação ao investimento em tecnologia, 54% planejam aumentar em relação a 2022, 32% manterão o mesmo nível e apenas 3% reduzirão o orçamento.
  • As tecnologias mais usadas incluem ferramentas para gestão de processos judiciais (87%), gestão de documentos e processos internos (82%), e recursos para jurisprudência, teses e modelos (81%). Outras áreas, como proteção de dados, melhoria da experiência do cliente, legal design, visual law, educação e consultoria, também tiveram adoção notável, variando de 50% a 70%.
  • Houve a criação de novas funções nos escritórios, principalmente nas maiores empresas. A proteção de dados liderou a motivação para a criação de novas áreas nos últimos cinco anos (39%), seguida por marketing (35%) e negociação, mediação e conciliação, e gestão do conhecimento (26%).
  • A principal motivação para a criação de novas áreas foi a demanda dos clientes (33%), seguida pela inovação na prestação de serviços (30%) e pela melhoria da estrutura tecnológica (29%).
  • Em termos de competências essenciais, os entrevistados destacaram o domínio do conhecimento técnico-teórico (39%), habilidades de gestão e tomada de decisão (26%), atributos socioemocionais (20%) e domínio de tecnologia (15%).
  • A maioria dos entrevistados acredita que a tecnologia terá um grande impacto nos escritórios de advocacia nos próximos cinco anos (93%). No entanto, um terço acredita que o papel do advogado será pouco afetado.
  • A pesquisa também incluiu perguntas qualitativas com representantes de diferentes grupos, incluindo a OAB, desenvolvedoras de soluções tecnológicas, o Ministério da Educação, associações de classe, associações de lawtechs e legaltechs, entidades de formação extracurricular e departamentos jurídicos e operações legais.
  • Foram identificadas 27 novas áreas e funções na advocacia, incluindo proteção de dados, sustentabilidade e diversidade.
  • A pesquisa conclui que as habilidades socioemocionais são consideradas cruciais para a advocacia, juntamente com o domínio da tecnologia.

estudo completo está disponível na biblioteca digital da FGV.

 

 

Originalmente publicado em:
https://analise.com/noticias/mapeamento-da-fgv-direito-SP-revela-os-impactos-da-tecnologia-n-profissao-juridica