A inovação como uma constante para o mercado jurídico

Marina Feferbaum
04 de dezembro de 2022
Marina Feferbaum

No atual cenário tecnológico, com transformações ocorrendo a uma velocidade cada vez maior, os impactos no mercado jurídico são evidentes. A prática jurídica de hoje já é bastante diferente da realizada (apenas) cinco anos atrás. Uma confluência de fatores e de diversidade de novos atores, mais do que impulsionam, vêm impondo ao Direito que ele mude. A automatização e robotização de certas funções jurídicas, por exemplo, vêm ocorrendo num processo crescente já há vários anos.

Somadas às mudanças de ordem social, política, econômica, ambiental e, principalmente, cultural, tal contexto nos coloca diante não mais de um impasse, mas de um imperativo: temos que inovar. Empresas, escritórios de advocacia, Poder Público, regulação e o ensino precisam estar em consonância com a evolução da sociedade, para conseguir responder à altura quando o Direito é chamado.

Essas transformações tecnológicas têm sido denominadas por muitos de inovação. Há, contudo, que se fazer uma distinção. A adoção de novas tecnologias na prática jurídica não constitui necessariamente uma inovação nos termos em que tratamos aqui. É possível inovar, por exemplo, ao aprimorar a forma de se realizar um trabalho, mesmo que não envolva ferramentas tecnológicas nem inteligência artificial; porém, para reestruturar essa prática jurídica e a cultura organizacional num cenário bastante modificado pelas novas tecnologias é que a inovação se dá.

A inovação é, logo, não apenas uma tendência, mas sim mandatória neste século para a sobrevivência de profissionais e das organizações. Desenvolver, portanto, novas habilidades para navegar num mundo laboral cada vez mais mediado por tecnologias da informação, multidisciplinar e complexo, e solucionar os problemas da sociedade é decisivo. A tecnologia enquanto matéria, que precisa lidar com novas agendas e áreas surgindo — Direito Digital, proteção de dados, contracts, blockchain, entre outros — demandam do Direito respostas eficazes, ao mesmo tempo em que a tecnologia enquanto objeto impacta nossa prática cotidiana.

A necessidade crescente de dialogar com profissionais de outras áreas, uma vez que a atuação jurídica contemporânea exige cada vez mais uma multidisciplinariedade, requer de nós conhecimentos básicos das áreas com que mais lidamos. Saber, portanto, como funciona, por exemplo, a lógica da linguagem de programação fará com que a solução que construamos enquanto juristas seja mais adequada à realidade.

Com profissionais que sejam capazes de compreender esses novos cenários complexos e os impactos da adoção de novas tecnologias no mercado jurídico e na vida em comunidade, determinar o norte da nossa atuação será muito mais preciso. Ao criar produtos capazes de proporcionar melhorias, ao mesmo tempo em que os impactos dessas inovações não afetem valores e princípios que regem nossa vida em sociedade, é fundamental.

Para seguirmos inovando, ainda, há mais dois fatores, não menos importantes que os demais. Um deles é modificar o sistema piramidal e hierárquico de relações para um sistema horizontal e cooperativo entre os diversos atores: profissionais jurídicos, profissionais não jurídicos e de posições tecnológicas. A construção de boas soluções só se dará com uma equipe multidisciplinar que realmente colabore entre si e arquitete um novo modelo organizacional jurídico. O mundo está mudando, e com tais transformações, nossa atuação também deve ser reinventada. Todos esses fatores levam, pois, tempo para serem assimilados e compreendidos, afetando não apenas nossa vida profissional, mas pessoal. A questão da saúde mental é, portanto, outro ponto chave que o mercado jurídico deve se atentar.

Apesar de haver programas cada vez mais avançados automatizando diversas tarefas, o ser humano é quem desenha, opera e deve controlar a forma como é impactado por essa nova realidade. Temos, portanto, que nos responsabilizar ao enfrentar esses desafios. Por fim, não esperemos pela chegada do futuro, muitas vezes com ar ameaçador, mas o estruturemos ativamente desde já. A inovação almejada apenas será concretizada enquanto consequência das escolhas que fizermos e no modo como coletivamente iremos gerir esse mundo, que está em constante transformação, para construir a sociedade que queremos.

 

 

Originalmente publicado em:
https://conteudo.agenciajavali.com.br/guia-tendencias-do-mercado-juridico-para-2023